Chega de epílogos felizes para sempre

Alerta de spoiler!

Depois de ver o último Jogos Vorazes no cinema, a reflexão que ficou foi: autoras, parem com esses epílogos, por favor, migas!

A Joanne Rowling excedeu a mão ao final da saga Potter, quando colocou Harry, Rony e Hermione na Plataforma 9 3/4 acompanhados de umas cinco pencas de filhos. Achei desnecessário aquilo ali. Muito meloso, além de um excesso de "felizes para sempre". E aqueles nomes que botaram nos garotos, só eu achei brega? Hahaha. Que soltasse aquele epílogo na web, no Pottermore, que seja. 

Claro que a qualidade do último Potter e do conjunto da obra é tão grande que não foi muito afetada pelo epílogo, embora realmente a sensação que prevaleça seja a de que aquilo não deveria ter sido publicado. 

Resisti muito até ler a trilogia Jogos Vorazes, mas não me arrependi de ter me rendido. Acho os livros bem escritos e a ideia de ter uma protagonista feminina de tal porte me é muito cara.

Uma pena que a Suzanne Collins tenha repetido o erro da Joanne Rowling.

Se o epílogo ao final do livro Jogos Vorazes - A Esperança já pesa no açúcar, no cinema a coisa só piora. Ver na telona aquela Katniss tranquilona e sem traumas, ali, de boas, sentada na grama, lambendo as crias, atacou minha diabetes. 

No livro, meio que para fugir do "felizes para sempre" mais óbvio, a autora fala da resistência da Katniss em ser mãe e dos pesadelos e traumas que jamais a deixarão. OK, reconheço o esforço, mas isso não foi o suficiente para cortar o tom adocicado. 

Um debate mais delicado e que ainda não amadureci totalmente é a postura de Peeta pressionando a Katniss para ela aceitar ser mãe. Acho pouco compreensivo e até insensível da parte dele agir assim, já que ela nunca teve esse projeto. Compreendo que ele pudesse acreditar que ter filhos poderia ser uma maneira de tocar a vida, de se forçar a lidar com os traumas e seguir adiante. Analisando alguns casos reais, esse tipo de raciocínio até se fundamenta. Mas é arriscado, além de ser doloroso para uma mulher tão ferida. Criança não é tratamento para os traumas de ninguém.

Acho que a arrecadação do filme sofreu um baque com esse final de contos de fada. Os tempos mudaram. As adolescentes e jovens adultas que acompanharam a saga esperavam um final menos óbvio para uma heroína mulher. Posso estar errada, mas acho que ninguém tava mais a fim de um final a la Bella Swan.

Embora eu seja mãe e admire a maternidade, acredito que precisamos ver algo diferente disso às vezes, até para que as mulheres que não tomaram este caminho percebam que essa não é mesmo a nossa única opção, ao contrário do que o patriarcado nos impõe.

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