Os verbos que me guiam
Coloco meus airpods e pedalo até o escritório pela manhã, trampo que só, devoro minha marmita gourmet balanceada e uso o restinho da minha hora de almoço olhando o mar no Marco Zero. Subo numa moto ao fim do expediente direto pro fitdance, que eu emendo com a musculação. Por fim, acendo um incenso e leio ficção científica até pegar no sono.
Pessoal aqui no trabalho gosta de brincar comigo dizendo que tenho sede de viver. E olha, não é que eu tenho um tanto mesmo? Nem é só pelo tempo que perdi em um relacionamento capenga, embora isso também pese na minha atual disposição de vida, mas é que passei muito tempo acumulando e agora eu quero queimar o que juntei.
E quando eu falo que passei muito tempo acumulando, quem me conhece um tico sabe que não me refiro a dinheiro, haha, por que isso eu não juntei um real. Eu falo de reflexão política e militância, de literatura, de cinema... Li, assisti, revisitei, e mal tinha com quem dividir as experiências empilhadas.
Do que vale uma citação foda de Octavia E. Butler se ela não puder ser feita em uma conversa inusitada com uma turma que encontrei por acaso em um inferninho recifense? E quem sabe um dia consigo realmente encostar a cabeça no peito de alguém que queira mesmo me ouvir divagar sobre as andanças de um hobbit pela Terra Média? Nem é que eu queira parar de ler ou de adquirir conhecimento (até pq tem taaaanta coisa que ainda não sei, e nem tou bancando a Sócrates), mas só não gostaria de que a minha única rota de escoamento fosse esse blogue.
Estava uns meses atrás retomando com minha best uma conversa que tive com outra amiga sobre os verbos que agora me guiam. E aí cheguei inevitavelmente em Ørgia, álbum do Johnny Hooker (que inclusive é fantástico, ouçam). Na primeira faixa, Johnny mistura suas próprias palavras a trechos de "Orgia. Os Diários de Túlio Carella". O pedaço disso que mais me impactou eu não sei se é de Johnny, se é de Túlio, mas fala sobre a pessoa ser invadida pela vontade de viver:"Pela primeira vez na minha vida, a vontade de ser me abandona, e sou possuído pela vontade de viver".Lembrando agora que esses dias eu citei Dumbledore em plena Casa Bacurau. Não adianta viver sonhando e esquecer de viver, Harry. Acho que finalmente estou colocando essa máxima do Dumb em prática.
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