Contra a ofensiva evangélica

Enquanto todo mundo discute a eleição do Tiririca, o processo eleitoral está sendo marcado por um evento pouquíssimo estudado no Brasil, mas que já tem forte influência no cenário político nacional: a ofensiva evangélica. Circulam pela internet emails e vídeos que, mesclando homofobia, machismo e misticismo, espalham histórias fantasiosas a respeito de cultos satânicos e doenças malditas. Seja nas pregações em igrejas ou em conversas de calçada, a argumentação religiosa tem servido como referencial para a tomada de decisões políticas. Crenças e questões transcendentais norteiam o voto de uma importante parcela de brasileiros.

Para ilustrar o que estou dizendo, vale lembrar de uma das histórias mais absurdas que evangélicos de todo o país tem espalhado. Segundo eles, a candidata Dilma Roussef tem um câncer do demônio e morrerá assim que eleita, deixando a vaga para Michel Temer, pessoalmente escolhido pelo Satanás para ocupar o cargo. Olhando assim de longe, é difícil conceber a idéia de que alguém em sã consciência leve isso realmente a sério. Mas calma lá. Ouvi o Conto do Câncer Maldito da boca de universitários; cheguei mesmo a receber emails de vários colegas com nível superior que acreditavam fielmente nisso. Não estou aqui puxando voto para Dilma ou PT (para que fique claro, votarei nulo), mas não posso ficar calada diante de argumentações deste nível.

Um dos fatores que tem impulsionado a revolta dos protestantes é justamente o casamento gay. Pastores gritam aos quatro ventos que não há maior pecado que a "prática da homossexualidade". O exemplo próximo da Argentina, primeiro país latino-americano a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, deixou os evangélicos em polvorosa. A conquista democrática de nossos hermanos pressiona o Brasil a seguir o mesmo caminho na extensão dos direitos civis. Enxergando essa possibilidade, as igrejas têm alimentado o sentimento homofóbico entre seus fiéis. Esses discursos acalorados se apóiam em duvidosas passagens bíblicas e tem gerado ainda mais ódio entre as pessoas.

Tenho absoluta certeza de que vou arrumar desafetos com essas palavras, mas acredito que esse debate está na ordem do dia. Para alguns, parece óbvio que crenças pessoais não devam nortear as tomadas de decisão do estado brasileiro, mas não se enganem. Em tempos onde o Pastor Cleiton Colins é o deputado estadual mais votado de Pernambuco (por duas eleições seguidas), defender a distinção entre estado e religião não é uma tarefa qualquer.

Comentários

  1. Rapaz... Cada um tem sua opniao!!Se vc acha tudo isso uma bobeira, outras pessoas nao acham.

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  2. Mas é exatamente pq cada um tem o direito de ter sua opinião que eu escrevi esse texto. Os evangélicos querem impedir os direitos democráticos dos cidadãos quando se colocam contra a lei que criminaliza a homofobia. Eles se colocam contra os direitos democráticos dos cidadãos quando querem impedir o casamento gay.

    Isso sim é desrespeitar a opinião alheia!

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  3. É isso mesmo, Lulu.

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