Harry Potter X Religião

Segundo Jehozadak Pereira, do site Aleluia, “a temática de Harry Potter é profundamente mística e inteiramente comprometida com bruxaria, feitiçaria e esoterismo, e é apresentada como literatura mimetizada em contos pueris, quando na realidade é perversa e advinda do inferno.” Em toda a série Harry Potter, Joanne Rowling não faz referências diretas a credos ou organizações religiosas. Contudo, inúmeros grupos cristãos acusam a autora de pregar o paganismo. Diante disso, fica a pergunta: qual a real relação entre a religião e o mundo mágico de Harry Potter?

Sinceramente, não recordo de ter dado de cara com o substantivo “Deus” em trecho algum dos sete livros da saga potteriana. Harry, Voldemort ou mesmo a Sra. Weasley nunca foram vistos rezando, temendo ou adorando um ou mais deuses. Na verdade, nenhum dos personagens criados por Rowling jamais participou verdadeiramente de um ritual religioso ou declarou ser partidário de qualquer religião. E apesar da aparente ligação, a saga Harry Potter não prega o culto à Antiga Religião. Segundo o site Bruxaria.net, “achar que o que está escrito ali é Bruxaria de verdade é abusar demais da boa vontade dos pagãos.”

Embora essa ligação direta inexista, o mundo mágico de Harry Potter está repleto de traços culturais advindos da fé religiosa, como os festejos de natal e páscoa, por exemplo. Encontraremos também inúmeras referências a crenças da Idade Média e a mitologia em geral – principalmente a grega -, característica que enriquece e dá consistência à obra de Joanne (sem isso, o mundo de Harry Potter não seria tão plausível). E embora não trilhe pelo caminho de nenhuma religião, a saga não nega a vida após a morte. A autora deixa pistas de que as pessoas prosseguem para uma nova etapa depois de mortas, apesar de não esmiuçar os segredos da morte (a conversa entre Nick e Harry no quinto livro, pág. 694, deixa isso bem claro).

Ao encarar as bases mitológicas de Harry Potter, alguns líderes protestantes e católicos pensam estar descobrindo as raízes demoníacas da obra de Rowling, mas não poderiam estar mais equivocados: a moral dos livros não fere aos mais importantes preceitos cristãos. A saga nos ensina o respeito ao próximo, a amizade e a lealdade, não é verdade? Apimentando essa discussão, o ator Daniel Radcliffe, intérprete de Harry Potter nas adaptações para o cinema, disse não acreditar em Deus, “mas na evolução”. Do lado católico, o sacerdote italiano Francesco Bamonte e o padre austríaco Gerhard Maria Wagner dispararam que Harry Potter induz ao satanismo. Mais recentemente, o Vaticano elogiou o filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe, ressaltando que o longa esclarece que o bem deve prevalecer sobre o mal.

Para concluir, vale lembrar que Dumbledore sempre disse que Harry tinha um trunfo em relação a Voldemort. Durante toda a série, Rowling enfatiza uma coisa que está acima de todas as religiões: o amor. Esse sentimento supera dogmas e rituais, sejam eles quais forem. É o amor que conduz Harry Potter à luta contra Voldemort e é o amor quem o faz triunfar. Eu só não entendo como isso poderia soar demoníaco…

*Originalmente publicado em minha coluna na Potter Heaven em 11/08/2009

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