E no limbo eu cresci



Tava pensando em como somos muitos e diversos e lembrei de uma fala da Taís Araújo no painel de O Auto da Compadecida, na CCXP 23. Em linhas gerais, a Taís falou o quão importante é ter diferentes representações de pessoas negras no cinema: não só no filme de favela (embora a gente também seja o negro da favela), mas interpretar sim a Nossa Senhora no Auto e tantos mais personagens incríveis e imprevisíveis quanto a arte nos permitir.

Uma coisa que sempre me inquietou foi não caber numa caixinha pré-estabelecida para o meu fenótipo. Na escola, me diziam que eu combinava com pagode, então fiquei sectária e não ouvi mais pagode; falaram que a cor da minha pele ficava bem com o branco e estampas coloridas, e eu vestia preto e preto e preto. Ao mesmo tempo, não me reconhecia entre os roqueiros, os emos, as wiccas, as patricinhas ou os nerds. E fui crescendo no limbo.

Hoje vejo mais gente como eu, mas me encontrei mesmo em não me achar em ninguém. Sou a menina da literatura fantástica, a afropunk, a afropaty da maquiagem cara, dos animes, dos treinos na academia. A que lê e também a que transa. Que diagrama e arranha escrever. Ainda não uso estampa, mas uma das minhas cores favoritas é justo o branco (o titular ainda é o preto...). Ando por aí tímida como sempre, mas com a coragem de volta e meia gritar verdades. Nas orelhas, enormes argolas douradas e nos pés botas vermelhas. Nos airpods, às vezes toca The Clash e às vezes Péricles. Somos as personagens incríveis e imprevisíveis que a vida permitiu que fôssemos.

(a imagem que ilustra a postagem eu preparei para um carrossel de ficção científica escrita por autoras negras e tem essa pegada de afrofuturismo que tão bem representa a subversão de esteriótipos)




Comentários

Postagens mais visitadas