Crepúsculo X Harry Potter X O Senhor dos Anéis II

Prosseguindo com o tema da coluna anterior, falaremos hoje de uma outra rivalidade muito comum em nosso fandom: a conhecida comparação entre Harry Potter e Crepúsculo. Os textos, as personagens, os filmes, tudo entra nessa rixa. Muitos fãs vão além e confrontam aspectos pessoais da vida das autoras de ambas as sagas para decidir quem é a mais esperta ou não. E eu, que sou fã de uma boa polêmica, resolvi meter o bedelho nessa briga. É lógico que não vou sair comparando quem escreveu mais livros, quem é a mais rica das duas autoras, a mais bonita ou coisas do tipo. A web já está cheia desses “duelos” bobos e não queremos mais do mesmo. Vamos apenas discutir uma coisa que tem se dito muito ultimamente: que Crepúsculo é melhor que Harry Potter e que os livros da Joanne já são coisa do passado.

Stephen King, considerado por muitos o mestre do horror moderno, saiu da neutralidade. Para ele, Stephenie Meyer “não é muito boa”. As declarações do autor deixaram uma boa parcela de fãs da série Crepúsculo descontentes. Ele disparou que os romances de Meyer surtem efeito com as garotas por conta do clima de romance que estas encontram nos livros. Entrando na briga que é tema de nossa coluna, ele comparou as duas autoras e chegou à conclusão de que “a real diferença é que Jo Rowling é uma fantástica escritora e Stephenie Meyer não consegue escrever nada que preste”. Afirmou também que os livros da saga Harry Potter são “um feito do qual somente uma imaginação superior é capaz”. Outra autora que detonou a série Crepúsculo foi ninguém menos que Anne Rice, autora de inúmeros best-sellers, dentre eles “Entrevista com o Vampiro”.

Se a crítica não tem sido bondosa com Meyer, vale lembrar que Harry Potter também já enfrentou bastante desconfiança nos meios literários, embora atualmente já goze de mais respeito. Alguns críticos já escreveram textos ácidos sobre a maneira como Rowling escreve. A. S. Byatt, do New York Times, chegou a dizer que Harry Potter foi escrito para “pessoas cuja imaginação está confinada aos desenhos animados da TV […] mundos-espelho das novelas, reality shows e fofoca de celebridades”.

Um aspecto muito confrontado nas duas sagas é o tempo que as autoras dedicaram à pesquisa. Todo mundo sabe que a gente não escreve um bom livro de uma hora para outra e que é necessário um árduo trabalho de pesquisa sobre o universo em que nossa história estará inserida. Pois há bem mais do que uma penca de gente jurando que a Meyer não consultou muitas bibliotecas quando criou Crepúsculo. O fato é que a própria autora afirmou não ter estudado muito sobre vampiros. Na verdade, ela confessou não ter lido praticamente nada sobre essas criaturas tão fascinantes. Em conseqüência disso, os vampiros de Meyer acabaram sofrendo pela pouca referência mitológica (eles são vegetarianos e brilham como diamantes quando expostos ao sol). Já a Joanne é bem ao estilo de sua personagem, a Hermione. Criaturas, feitiços e muitos dos nomezinhos utilizados para batizar personagem ou lugar na saga Harry Potter foram inspirados nas mitologias grega, egípcia e por aí vai. Os próprios fatos históricos que acontecem no mundo mágico mantém relação com os que se passaram no mundo real (a queima das bruxas na Idade Média, por exemplo), o que empresta aos textos uma boa dose de verossimilhança.

Acontece que o número de fãs de Harry Potter foi crescendo na medida em que as adaptações chegavam ao cinema e os livros estouravam nas livrarias. É uma grande massa de fãs acostumada a enfrentar filas para chegar o mais rápido possível ao novo livro da saga, a trajar as vestes bruxas na estréia dos filmes… E aos poucos essa agitação toda vai serenando. Eu entendo que uma parte dos fãs de Harry Potter fique chateada de tanto deparar com a cara do Robert Pattinson estampada nas bancas de revista, ou que fique enciumada ao reparar que na prateleira de destaque da livraria está “Lua Nova” ao invés de “Harry Potter e a Câmara Secreta”. Mas isso acontece o tempo todo, é a lei do mercado. Não significa que os livros da Meyer sejam melhores que os da Joanne. Mas se confortem com uma coisinha: a qualidade resiste ao tempo. E só o tempo vai dizer quem entra para o estreito hall dos clássicos e quem amargará o esquecimento dos best-sellers da semana passada.

*Originalmente publicado em minha coluna na Potter Heaven em 20/01/2010

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